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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A moça da Torre - Final


O golpe foi muito rápido. Quando percebi que estava no chão, a minha cabeça já latejava e minha testa sangrava. O sangue bloqueava a minha visão e usei a costa de minha mão para limpar a testa, mas depois eu só consegui pensar em dor.

Alguma coisa perfurou minha coxa. Minha visão ficou turva. Era possível apenas enxergar um vulto gigante, parecia um tentáculo de polvo cravado na minha perna. Por ação instintiva, peguei a Palavra e cortei aquele tentáculo . Não nenhum urro de dor da criatura, embora meu golpe tenha a mutilado. Tirei o pedaço que estava cravado na coxa, que ficou se debatendo no chão,  e me levantei com dificuldade usando a espada como apoio. Só neste momento percebi que  o tentáculo vinha do solo. Imaginei que fosse algum tipo de criatura subterrânea, mas aquilo parecia mais algum tipo de vegetal, escorrendo algum tipo de gosma esverdeada. Meu cavalo ficou agitado com a visão assombrosa, mas tratei de montá-lo o mais rápido possível, afinal eu estava perdendo muito sangue e precisava chegar logo na torre, pois eu não ficaria consciente por muito tempo.

Enquanto minha vista escurecia desvencilhando à esmo com a Palavra, o meu companheiro de viagem corria com um vigor que era visto somente por duas almas fraternas, como se tivesse exata noção da minha urgência de cuidados. Meus goles estavam cada vez mais aleatórios e com menos força. Eu ainda tinha uma complicação: os portões da torre estavam trancados e não havia nenhum sinal da tal jovem presa. Fiquei pensando se aquela história era mesmo verdadeira, ou a garota já estava morta há muito tempo e os moradores do entorno apenas alimentavam o boato para terem assunto nas conversas de taverna.

Meu leal amigo já estava se aproximando do portão, o qual eu iria tentar derrubar com meu último esforço para golpeá-la com a Palavra, eu só não contava que outro maldito tentáculo fosseme agarrar pela cintura e se levantado. Devido à perda de sangue, eu já estava gelado e desmaiando. Só me lembro de ouvido um estrondo e ter caído no chão...,

A visão estava ainda embaçada, mas eu podia notar com nitidez aqueles olhos de azul intenso sobre uma pele delicadamente alva. E os cabelos...ah, os cabelos! Eram de um negro tão vivo como a noite, que ostentavam uma tiara de brilhantes que pareciam ser adornados com as próprias estrelas.Uma expressão de solicitude  com preocupação se apresentava diante de mim. Os lábios rosados em aflição me pareceram tão atraentes,...acho que eu não me encontrava a sós com uma mulher há muito tempo.

 "Você está bem?", ela pergunta com uma voz carregada de doçura. Parece que ela realmente se preocupa com meu estado. Eu apenas respondo afirmativamente com a cabeça sem desviar o olhar daquele par de olhos tão enfeitiçantes.Ela apenas continuou com um sorriso de admiração:

 - Muitos guerreiros não conseguiram sobreviver aos ataques. Você tem muita sorte de ter um cavalo tão rápido e que eu tinha um tiro de mosquete guardado.
- Obrigado. Se não fosse por você, eu já teria morrido.
- Nada disso cavaleiro, o mérito é todo seu. Mesmo fraco você conseguiu se livrar muito bem da planta gigante. Outros caíram em desespero e se deixaram sucumbir. E você já estava na porta da torre. É merecedor dessa vitória, eu apenas facilitei um pouco o final.
- De qualquer forma, muito obrigado pela ajuda.
- Não precisa agradecer. Você consegue se levantar sozinho?
- Acho que sim. Qual seu nome?
- Oh, que indelicadeza a minha, me chamo Sirena. Gostaria de conhecer a torre?
- Sim, me intriga muito o modo como você conseguiu sobreviver até agora, mas... onde esta o Leal?
- Quem?
- Meu cavalo. Onde ele está?
- Ah! Sim! Ao contrário de você, ele só precisou de água e comida, está descansando perto dos portões. A planta não ataca aqui dentro.
 - Quero que me conte toda sua história. Já posso me levantar. Só preciso me apoiar aqui na mesa...

Eu mancava pela torre, embora não sentisse dor alguma. A moça eram muito boa com as artes curativas.  Equanto passeávamos, foi me mostrado toda a estrutura da torre, que parece muito menor por fora. É uma construção constituída de um enorme salão luxuoso, com um hall para dança com espaço suficiente para realizar um baile. O teto possui uma abóboda pintada com com afrescos com de vários lugares belíssimos.  os quais alguns eu já tinha conhecido em viagens anteriores.

Na base da torre há um estoque impressionante de grãos. O suficiente para uma pessoa viver 3 vidas inteiras. Além disso, há um pomar localizado em um anexo, onde Sirena me garantiu que os tentáculos subterrâsneos não a atacavam. Sua ideta era basicamente vegetariana. Como tanto suprimento foi parar num mesmo local, Sirena não soube me responder

Enquanto passeávamos aproveitei para perguntar como uma moça tão linda vivia sozinha em um lugar tão grande. Ela respondeu que não faiza idéia de quanto tempo já estava lá, nem se eram meses, dias ou anos.Tampouco ela sabia explicar da família. Não sabia de onde veio e nem se já morou em outro lugar e nem mesmo como veio parar ali. Quanto mais eu perguntava sobre sua história, menos ela sabia. Aquela história estava muito esquisita. Com um princípio de paciência, parei ao lado de uma janela e perguntei:

 - Como é possível você viver tanto tempo aqui e nunca ter se perguntando de onde veio?
 - Pra que saber isso? O que interessa é que não posso sair daqui!
 - Você nunca quis saber de sua origem? Quem são seus pais?
 - Eu já disse que não sei!! Eu só quero sair daqui! Mas tudo é smepre difícil! Ninguém consegue chegar até aqui. E quando finalmente você consegue, fica me fazendo um monte de perguntas esquisitas!!

Enquanto a garota começava a aumentar o tom de voz, notei por uma das janelas da torre que os tentáculos  dos vegetais se agitavam na mesma proporção que a garota se abalava. Nunca havia visto coisa igual. Ela começou a chorar e a gritar "Por quê vocês sempre fazem isso?". Nessa hora seus pés assumiramuma forma que se assemelhava à uma raiz e transpassou por frestas nos cantos da torre. No mesmo instante apareceram mais 4 tentáculos. A própria garota era a autora dos ataques.

"Por quê ninguém quer me resgatar? Até você vai desistir?" - Ela continuava gritando. Sua face delicada foi tomada por uma expressão de uma fúria hedionda que distorcia seu lindo rosto numa careta repulsiva. Mais tentáculos passaram a aparecer de dentro da torre, trazendo entre si pedaços de cadáveres de outros guerreiros. Percebi isso por causa dos pedaços de armaduras presos à carne apodrecida."Você não vai desistir! Ou me leva com você, ou vai ficar junto com os outros!", ela esbravejava.

Nessa hpra só dispunha do poder da Palavra, que estava na minha bainha. Quase sem poder andar direito, saquei a antiga espada e desferi um golpe que acertou o primeiro tentáculo que vinha em minha direção como um chicote. A garota soltou um urro de dor que poderia ser ouvido a 5 km dali. Era um grito de raiva, mas desprovido de qualquer humanidade.

Meus cabelos da nuca ficaram arrepiados, senti um nó no estômago e confiei apenas em minha Palavra  e na habilidade de quem a forjou para me tirar daquela situação. Não sei se pela adrenalina do medo ou pelo poder da espada antiga, fui tomado por um vigor repentino que me fez empurrar aquilo que  há pouco tempo tinha sido uma linda garota, cortar seus tentáculos pelo caminho e descer as escadas.

Nas horas de medo nós percebemos o quanto o caminho fica longo para chegarmos ao nosso destino final.A escada em caracol não ajudava muito e torpecei uns 5 lances de escada até me levantar e continuar a corrida. Sentia sob meus pés um tremor que só significava uma coisa: os tentáculos maiores estava querendo derrubar a torre comigo dentro.
Leal estava à minha espera na base da escada. NUnca vou entender completamente a capacidade de intuição de meu amigo de viagens. Já trazia em sua cela todo o restanta da minha armadura. Não tenho a menor idéia de como ele conseguiu tal proeza, mas a situação não me deixava refletir sobre nada disso.

Montei em meu cavalo mais que inteligente e sagaz e pedi para que corresse como nunca havia feito. Meu amigo levou o pedido à risca e saiu ziguezagueando pelos 5 tentáculos enquanto eu os golpeava. Cada golpe era seguido de um urro de dor que apavoraria qualquer exército. Agora que me recordo no momento em que cortei o tentaculo de minha coxa, ouvi um gruito semelhante, mas o desespero de sair dali era tão grande que nem me importei de saber de onde vinha, já que eu ainda pensava se tratar de um animal subterrâneo.

Com o fôlego em seu estágio final, conseguimos sair daquela área estéril do terreno da torre e só paramos uma distancia bem segura.

Hoje não sei como se encontra a criatura que parecia aquela formosa moça. Nem sei se a torre ainda existe, mas sempre que paro em alguma estalagemperto daqueles arredores e me deparo com um guerreiro de porte heróico, sempre lhe pergunto:Você já ouviu falar da moça da torre?"





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