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domingo, 15 de agosto de 2010

A moça da Torre - Parte I


Esse evento ocorreu antes do meu encontro com o Trovador e não tinha vivido nem metade das aventuras que preencheram muitas de minhas narrativas, logo os fatos que se sucederam me causaram uma considerável estranheza.

Já era tarde da noite quando eu caminhava por uma estradinha de terra batida. Meu cavalo já ansiava por um merecido repouso. Ser um Cavaleiro do Reino do Leão não lhe concede muitas regalias em certas regiões, ainda mais quando se aproxima a época da celebração do material. Para alguns, abrigar um cavaleiro dessa ordem traz uma certa energia negativa para o total aproveitamento da celebração da carne e achei preferível escolher o relento como quarto e as pedras como travesseiro do que ser levado a me retirar de uma morada com toda a armadura desmontada e provisões arremessadas por um anfitrião superticioso.

Minha capa surrada já não aquecia de forma satisfatória. Ainda bem que eu e meu companheiro de galope fomos agraciados com a visão da cidade murada no horizonte. Mesmo com um horário avançado, a cidade iluminada estava bastante barulhenta, com músicas e gargalhadas ao longe. A Celebração da carne já havia iniciado.

Uma das poucas vantagens de se estar em uma cidade na época da Celebração da Carne é que você sempre vai encontrar uma estalagem com um quarto disponível à noite. Quando cruzo o portão sem vigia, minha suspeita é confirmada novamente. Parecia que todos os habitantes da cidade resolveram sair de suas casas ao mesmo tempo, sem contar o número considerável de forasteiros que visitam a cidade na época da Celebração da Carne. O comércio sempre agradece...

Em meio à todo aqule rebuliço de alegria temporária,  avistei uma estalagem vazia que ficava um pouco distante de toda a barulheira. Meu cavalo precisava  se alimentar  eu precisava descansar os ossos. Amarrei meu companheiro na baia da estalagem e entrei. O lugar era rústico, mas muito limpo. Um pequeno ambiente de madeira com algumas mesas dispostas, quatro quadros onde era possível ver eventos cotidianos da cidade pendurados um em cada parede. Não havia ninguém, exceto por um barman que folheava um livro  no pequeno balcão à direita.

Logo que percebeu miha chegada, ele se virou em um sorriso bem cordial e automático dizendo:

"Vejam só! Um cliente em pleno dia de Celebração da Carne? Coisa muito rara de se ver.Por que não está aproveitando a noite, rapaz? Ah, não precisa explicar, não... essa armadura já explica tudo. Como vocês chmam essa espada mesmo?"

"Palavra" - eu disse em tom bem amigável. Embora fosse muito mais do que uma arma, a Palavra ainda não era conhecida em sua essência pela maioria dos habitantes do reino. Seu desenho foi forjado a partir de orientações do próprio Ancião de Dias. Mesmo com partes fabricadas por diferentes ferreiros em épocas diversas, é um item completo de um poder muita vezes subestimado.Ele parou algum tempo admirando minha espada e continuou a conversa:

"É uma bela lâmina, mas nem todo mundo saber usar. Já apareceram alguns que vieram aqui dizendo que queriam falar sobre como ela tinha sido forjada e no final só queriam se exibir mostrando o quanto sabiam manejar a arma deles. A gente aqui nem dá mais ouvido ao que eles dizem. Sem ofensas, claro, eu sei que nem todos vocês são assim."

"É verdade, a Ordem dos Cavaleiros possui muitos segmentos e infelizmente nem todos que prestaram o Juramento Público o honraram. É uma triste realidade" - eu respondi com um suspiro de vergonha.
"Mas eu admiro muito o rei que vocês servem. Ouvi muita coisa boa sobre ele, mas são coisas muito antigas. Você acha mesmo que ele vai voltar?" - essa é uma pergunta difícil de ouvir.

"Foi o que ele disse. Nenhuma promessa dele foi quebrada"

"Eu queria ter essa esperança que você tem. Os tempos andam difíceis por aqui" - seu semblante mudou de forma repentina para uma expressão de cansaço, deixando a cordialidade automática de lado.
"Mas...que tipo de tempos difíceis?" - Minha curiosidade. Um verdadeiro chamariz de confusões...

"Além de ter uma das maiores festas da Celebração da Carne, nossa cidade também é conhecida por ter o maior número de guerreiros mortos por ano. E tudo isso por causa de uma linda moça. Bem, não é por causa dela realmente, mas a moça está envolvida. Sente aí que vou te contar a história."

Adoro uma boa história, embora estivesse cansado, o dono da estalagem ofereceu um chocolate quente e um pão delicioso. Enquanto eu tinha meu júblilo por uma refeição decente, o robusto homem se dirigiu ao meu cavalo para alimentá-lo enquanto dava início ao seu relato:

"Não se sabe há quanto tempo foi, mas parece que ela sempre viveu lá. Não se sabe dos parentes ou amigos, ela sempre aparece em uma das janelas da torre com um olhar triste. É algo de dar pena e assustador ao mesmo tempo. Sempre morei aqui e já estou com quase 50 anos e parece que aquela garota nunca evelheceu um único dia.Ela é muito bonita..talvez fosse até uma princesa e parece que não mora mais ninguém com ela. Seja que tipo de maldição ela tem, parece que não precisa de comida, já que nunca vi nenhum carregamento de mantimentos chegando até a torre. Na verdade, nada consegue chegar até lá, tem muitas armadilhas que mataram muitos guerreiros. Essa pintura que você vê, foi feita pelo artista com uma luneta. O cara se borrava só de olhar para a torre. Com o tempo, as pessoas pararam de tentar salvar a pobre moça, porque  a torre não parecia trazer nennhum mal à garota, só deixava ela presa lá dentro. Quem se dava mal era quem ia lá socorrer a coitada. Às vezes eu sinto pena, ver uma moça presa daquele jeito sabe Deus quanto tempo, mas isso já derramou sangue demais."

Embora a história fosse de pesar, o velho homem nem percebia que a cada fato narrada era um incentivo para eu ir conhecer essa moça. Mas eu ainda tinha uma noite inteira para descansar e preparar o meu espírito para que tipo de desafio eu iria enfrentar....

Continua...

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